A CRUZ DA PRAÇA
Todos nós crescemos vendo ali na praça
Artur Pires (hoje Praça da Republica), uma cruz, rodeada de roseiras,
sobre modesto pedestal de pedras, solitária e triste.
Muitos perguntam:
-Qual a origem? Quem a plantou ali?
Pois
essa cruz tem sua história. Não marca ela o lugar onde
tombou algum viajante varado pelas balas traiçoeiras, vinda das
brumas da noite, em vil emboscada. Não assinala ela o lugar onde
descansa em seu último sono, alguém que ali fosse depositado,
em cova rasa por ter sido sacrílego, sem o conforto da terra
abençoada. Vem ela dos primórdios da história da
cidade, quando esta era ainda pequenina e ensaiava seus primeiros passos
na interminável senda dos tempos. Ela ali está, como marco
vivo da fé de um simonense, que a voragem levou envolto nas dobras
roxas do passado.
A família Azevedo, que grandes luminares nos
legou, aqui se radicara, havia muito tempo. O avô de Martiniano
de Azevedo, que era solicitador das causas cíveis, enriquecera,
mercê de seus esforços e trabalhos ininterruptos por anos
de trabalho.
Quando já velho, percebendo que em breve a morte
o visitaria, fez seu testamento, legando, no mesmo, a quantia de dez
contos de réis, para que seus herdeiros mandassem erigir dentro
de suas terras, uma capela em louvor de Nossa Senhora Aparecida, sua
grande protetora e que o ajudara a amealhar tudo aquilo que legava aos
seus.
Assim, passado o período de luto, os descendentes
do ilustre morto, com fogos, música e grande festa, numa manhã,
entregaram à terra, ali naquele lugar, a pedra fundamental da
futura casa de oração.
Porém, o pároco pediu aos herdeiros,
que abrissem mão do dinheiro legado, para com ele completar a
quantia de que necessitava para a vinda da maravilhosa obra de arte
que é o altar-mor da matriz, encomendado na
Itália, ao imortal escultor Marino Del Favaro. Trabalhado em
madeira de lei e ouro, compõe-se ele de uma apoteose de anjos,
arcanjos, querubins e serafins, magníficos nas expressões
e graça dos movimentos.
No alto, está o mundo estrelado, rodeado de
cinco querubins, dentre os quais, um coloca sobre o mesmo, a cruz. Mais
abaixo, outros dois querubins, sustentam a corôa da Majestade
Divina. Aos lados, sentados sobre lambris dourados, à direita
e à esquerda, dois arcanjos empunham os símbolos da Justiça
e as trombetas do Juízo Final; no centro sobre nuvens, dois serafins
levantam uma salva de ouro, da qual emerge o Divino Espírito
Santo. Sobre o Sacrário, dois anjos sustentam magníficos
candelabros. No chão, sobre colunas, de cada lado, dois arcanjos
de asas abertas, erguem outros dois candelabros imensos. Suas guirlandas
entrelaçadas, formam estupenda floração que circunda
os nichos onde estão, no centro ao alto, São Simão
Apóstolo e aos lados São José e Nossa Senhora do
Carmo. Sua contemplação é extasiante e constitui
ele, o orgulho de todos os filhos da terra. Como esse altar, jamais
se viu outro e parece que o artista realizou tão bela obra prima,
para jamais fazer outra igual.
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Fotos atuais do
Altar da Igreja Matriz de São Simão. |
A sonhada capela de Nossa Senhora Aparecida, não
se projetou no espaço, ali no jardim onde se acha a cruz, pois
sua padroeira preferiu que o altar falasse, através dos tempos,
da beleza, da paz e da concórdia que deve haver entre os homens
de boa vontade.
Foi melhor assim...
Talvez a capela a ser erigida ali, não dissesse
tão magnificamente, como nos fala esse altar, quando comovidos
e contritos nos ajoelhamos diante dele para elevar nossas preces ao
Senhor.
Fonte: EPOPÉIA DE UM POVO
(Paulo Ferrari Massaro)
Fotos cedidas pela Secretária Municipal de Turismo de São Simão
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