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Em outubro de 1.901 apareceram alguns casos da antiga doença. Não se sabe qual era o motivo e quem teria dado a ordem, todavia começou-se a encobrir o problema. Em junho de 1.902 os casos isolados viraram epidemia extremamente séria sendo que a população local começava a fugir de São Simão.

O Serviço Sanitário Estadual ficou sabendo dos casos de febre amarela de São Simão ( os refugiados o estavam dizendo ) e entrou em contato com a administração da época fazendo indagações sobre o que estava acontecendo. Por incrível que possa parecer, a resposta foi que as condições sanitárias da cidade estavam "ótimas"!

O intendente ( prefeito ) assim respondia talvez para evitar pânico ou talvez para evitar que a cidade perdesse mais habitantes para outras cidades da região que outrora eram menores e agora eram maiores, ou talvez para evitar ingerência do estado problemas do município ou para não ficar sem receber imigrantes que poderiam muito bem ir para outras regiões ou ainda, para não perder a indústria têxtil que seria instalada no interior do estado. Não dizendo a verdade sobre a epidemia, a ajuda não veio de imediato e muitas pessoas da época eram sepultadas com mortes estranhas(*).

De qualquer maneira, o Serviço Sanitário Estadual enviou um clínico de sua confiança para São Simão e obteve a confirmação, ainda que tardia, que havia grave surto de febre amarela. O clínico constatou horrorizado que muita gente estava morrendo e "acidentalmente" a causa mortis nada tinha a ver com a febre amarela.

O intendente queria provar que em São Simão não havia febre amarela e solicitou que viesse um inspetor sanitário para a cidade. Veio, então, o doutor Carlos Meyer que viu focos do ÆDES ÆGYPT alertando para o problema. Os médicos locais contestavam tal idéia de transmissão e assim ficou o dito pelo não dito.

Emílio Ribas viajou para São Simão. Quando chegou aqui, o grande sanitarista descreveu a cidade de forma pouco lisonjeira. Em suas observações ele disse que a cidade tinha exatos 530 prédios sendo que 90% eram mal construídos, sem forro, sem assoalho e onde não havia preceitos de higiene sendo que São Simão não tinha rede de esgoto.

A epidemia aumentou. Todas as crianças e recém nascidos de São Simão que ficaram aqui nesta época morreram ( os historiadores Fausto Pires de Oliveira e Luiz Antônio Nogueira compararam todos os registros de nascimento e de óbitos do final do século XIX e início do XX ).

Emílio Ribas
Sanitárista

Emílio Ribas e vários médicos ficaram hospedados no "Hotel dos Viajantes", prédio que fica em frente a atual rodoviária de São Simão. Conseguiram um grupo reduzido de voluntários e se tornaram os administradores municipais pois toda a administração abandonou São Simão com medo da doença.

Para provar aos médicos de São Simão que a doença não se transmitia por contato, Emílio Ribas - que já tinha estudado a doença inclusive recebendo picada de pernilongos -colocou um dedo de sua mão em secreções de um recém falecido com a febre e o enfiou na própria boca.

Enquanto não havia sido fundada a Santa Casa de Misericórdia, Emílio Ribas trabalhou durante um certo tempo com a equipe nos fundos do cemitério da zona rural ( hoje cemitério do bairro de Bento Quirino ). Assim que morria mais uma vítima, ela já era imediatamente sepultada. Colocava-se apenas uma chapa de ferro, inscrevia-se com tinta o número e marcava-se no livro quem ali estava.

tumulo fora do cemitério

Quem queria ajuda corria para o cemitério, todavia nem sempre isto era possível. Houve um caso de um jovem que estava procurando socorro mas não conseguiu chegar ao cemitério morrendo algumas dezenas de metros antes. Assim que seu corpo foi encontrado, abriram um buraco ali mesmo e o enterraram. Vide abaixo foto do túmulo no meio do campo.

Depois que a epidemia acabou graças a Emílio Ribas, a cidade de São Simão estava arrasada.

Boa parte das famílias foi embora para cidades vizinhas com condições sanitárias melhores e nunca mais voltaram com medo da doença. Emílio Ribas, enquanto aqui esteve mandou limpar o rio que corta a cidade e acabou com todos os focos de ædes ægypt. Os doentes ficavam isolados por cortinas para que não sofressem picadas de pernilongos e espalhassem ainda mais a epidemia.

As pessoas que fugiam de São Simão iam até as cidades da região e diziam que havia epidemia de febre amarela. A vigilância epidemiológica estadual, a princípio foi ludibriada pela administração da cidade que não queria informar corretamente o que ocorria por aqui, todavia a vigilância epidemiológica enviou pessoas de confiança para São Simão que constataram o problema grave que ocorria na cidade.

(*) - Um clínico pode constatar que os atestados de óbito não mencionavam a epidemia de febre amarela, mas sim as seguintes causæ mortis ( verdadeiras pérolas da medicina ) para encobrir o problema e que estão guardadas no Cartório de Registro de Pessoas Naturais de São Simão até hoje. Vejamos:

  • embaraço gástrico febril
  • febre remitente biliosa grave dos países quentes
  • febre gastro-êntero-hepática
  • influenza complicada com impaludismo e entidade mórbida

Para saber mais, vide Cartório de Registro de Pessoas de São Simão. Vide também a revista da sociedade brasileira de medicina tropical, jan-fev - 1.996, Luiz Tadeu Moraes Figueiredo )

 

Foto de Emílio Ribas retirada da Revista da Sociedade Brasileira n.o 29/99.

Foto do tumulo por Edilson Palmieri.

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